Riba Chinaski
Graduando do Curso História Licenciatura na Universidade Federal do Maranhão.
Colunista do Jornal Extra/Slz desde 08 de fevereiro de 2009.
Blogueiro desde 25 de outubro de 2008, com vários blogs, como Fora do Ar, Nativus Slz sendo que este contou com considerável repercussão em São Luís do Maranhão e atualmente possui um blog de contos e crônicas intitulado Botequim da Diva
Na Mira: Há quanto tempo escreve poesias?
Riba Chinaski: Quando estava no ensino médio, no 1º ano, comecei a escutar uma galera que fazia Rock and Roll na década de 80, como Legião Urbana, Cazuza entre outros, e percebi que aquelas letras não eram simplesmente para serem cantadas ou para dançar ao som delas, mas também ou principalmente para refleti-las. Assim comecei a timidamente escrever alguns rabiscos poéticos, eu já escrevia há algum tempo, mas nada de poesia, eram enredos de histórias. E com o passar do tempo e com o consumo diário de autores poetas, comecei a me apaixonar por esse estilo literário. Meu primeiro meio de divulgação dos meus primogênitos poemas foi aqui no “Galera” que hoje se tornou “Na Mira”.
Na Mira: O que mais gosta na poesia?
Riba Chinaski: A possibilidade da expressão dos sentimentos, dos desejos e das emoções mais sinceras, ou nem tanto assim, que ela nos possibilita.
Na Mira: Qual poesia gosta mais? Por quê?
Riba Chinaski: Essa é uma pergunta muito complexa, escolher entre tantas as poesias que conseguem despertar em mim algum sentimento. Espero que você não se sinta ofendida, por minha violação da pergunta, escolherei duas de dois escritores de épocas distantes, mas muito similares no que diz respeito a sua “mística” literária. O Primeiro poema é de um escritor português muito citado, mas pouco conhecido em sua expressão literária, Fernando Pessoa. O Poema “Tabacaria”, do heterônimo Álvaro de Campos, sempre me tocou de uma forma inexplicável, pelo menos até uns 14 anos era um pouco nebulosa minha relação com ele. Hoje consigo perceber o quanto de imensidão e vontade existe ali, apesar de seus primeiros versos falarem de uma vida ou uma existência que pode não levar a nenhum lugar, uma de suas estrofes que vem logo depois e uma que vêm ao final, mesmo que pareçam inocentes guardam um fio de esperança ou quem sabe uma saída tormentosa, a busca pelos sonhos: “... À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...” e “... Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.”
O Outro escritor e sua cria é o poeta Beat Allen Ginsberg, o verdadeiro místico da Geração Paz e Amor e de seu ideal “Flower Power". O Poema que escolhi, na verdade é uma introdução poética ao seu poema mais famoso e de certo um dos mais polêmicos, “O Uivo”. “Nota de Rodapé para o Uivo” retrata uma busca incessante pela sacralidade que todos os seres e objetos tem, o homem sendo considerado “imagem e semelhança de um Criador, tem por seu direito a sacralidade do seu corpo e também a de tudo que é feito por ele. Também guarda uma amostra da incessante busca espiritual que não só a Geração Beat se preocupa tão fortemente, como a busca por algo maior que todos os seres humanos tem, não só em questões religiosas, mas também de auto-satisfação.
PS: Confira “Nota de Rodapé para o Uivo” no final da entrevista.
Na Mira: Qual é o poeta preferido? Por quê?
Riba Chinaski: Poeta preferido? É muito interessante essa pergunta por sua dificuldade, e pelo constante receio de escolher um entre tantos os sagrados senhores da poética e deixar os outros com ciúme ou desamparados, mas creio na escolha de algum deles por meus colegas de entrevista. Para facilitar minha vida, que me perdoe Fernando Pessoa, mas o poeta que mais consegue refletir os meus desejos mais profundos é o grande heterônimo “Álvaro de Campos”. Esse Heterônimo é o mais inquieto, o que mais guarda angústia da sua existência e o que mais consegue condensar os sentimentos mais profundos dos seres humanos, e, por conseguinte o que mais me fascina. Não tenho palavras para expressar o quanto da genialidade de Fernando Pessoa, só um místico ou “deus” para conseguir se dividir em mil e dar a cada um deles uma característica peculiar e nunca os confundir entre si.
Na Mira: Qual a sua temática preferida ao escrever poesias?
Riba Chinaski: As minhas temáticas variam muito, do simples e trágico amor romântico ao confronto do jovem com sua própria existência. Certa vez um amigo me falou que meus escritos eram destinados aqueles que estavam começando na vida, não importavam se jovens ou adultos que despertavam, quase como um "Satori", o despertar budista tão bem retratado por Jack Kerouac. Eu guardo um fascínio especial pelos temas que envolvam algo como um despertar, uma consciência adormecida algo que encontro muito na Geração Beat e em poetas como Fernando Pessoa.
Na Mira: Por que você acha a poesia algo importante?
Riba Chinaski: A Poesia além de guardar uma expressão dos sentimentos mais profundos, um olhar de alguém sobre a vida ou do cotidiano. Expressa também que apesar de toda mácula toda pobreza que nos é destinada ainda existem alguns que como viajantes tentam fazer com que as pessoas se lembrem que ainda são humanos e como tais ainda devem lembrar que existe o amor ou quem sabe mesmo a tristeza possa ser encarada como mostra de sua fragilidade. Na realidade acho que todos são artistas ou poetas, como um pai de família consegue ser um Fingidor digno de Pessoa, para tentar equilibrar as despesas de sua casa com o pouco que ganha. Essa é a verdadeira poesia aquela que a maioria não percebe, mas que guarda um talento bastante admirável.
Na Mira: Para você, jovem ainda gosta de poesia? Por quê?
Acho que o jovem por excelência é um grande apaixonado pela poesia, apesar dos sinais que dizem o contrário, como a grande procura por músicas com letras de qualidades um tanto duvidosas. Ainda vejo muitos jovens expressando essa característica poética, um grande exemplo é a quantidades de blogs e até de publicações alternativas, estas últimas em número menor aqui na ilha. Hoje a grande alternativa para expressão da poesia, é a chegada de uma onda mais melosa que vem das bandas “emos” que expressam seus sentimentos através de melodias choronas e letras cheias de amor. Mas é notável a procura por clássicos da literatura mundial, uma prova é quando vou às livrarias a procura de algum livro de poemas, na maioria das vezes esse já se esgotou.
Na Mira: Você acha importante ter um dia da poesia? Por quê?
Riba Chinaski: Toda data comemorativa é bastante simbólica e representa um dia em que um fato ou uma grande característica é exaltada, particularmente considero que para os apaixonados pela arte poética todos os dias são dias de celebrá-la. No entanto, acho bastante louvável a escolha do dia 14 de março, dia do nascimento de Castro Alves um de nossos maiores poetas abolicionistas, como dia símbolo desta arte, além disso, tendo um dia “especial” para a poesia é bom ver que alcance essa arte tem nos jovens ou mesmos nos adultos, pois é comum ver num dia de comemoração diversas homenagens ao que está sendo celebrado.
Nota de rodapé para UIVO - Allen Ginsberg
Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!Santo! Santo! Santo! Santo!
O mundo é santo! A alma é santa! A pele é santa! O nariz é santo! A língua e o caralho e a mão e o Cu são santos!
Tudo é santo! Todos são santos! Todo lugar é santo! todo dia é eternidade! Todo mundo é um anjo!
O vagabundo é tão santo quanto o serafim! O louco é tão santo quanto você minha alma é santa!
A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes são santos o êxtase é santo!
Santo Peter santo Allen santo Solomon santo Lucien santo Kerouac santo Hunke santo Burroughs santo Cassady santos os mendigos desconhecidos sofredores e fodidos santos os horren dos anjos humanos!
Santa minha mãe no asilo de loucos! Santos os caralhos dos vovôs de Kansas!
Santo o saxofone que geme! Santo o apocalipse bop! Santos a banda de jazz marijuana hipsters paz & droga & sonhos!
Santa a solidão dos arranha-céus e calçamentos! Santas as cafeterias cheia de milhões! Santo o misterioso rio de lágrimas sob as ruas!
Santo o solitário Jagarnata! Santo o enorme cordeiro da classe média! Santos os pastores loucos da rebelião! Quem saca que Los Angeles é Los Angeles!
Santo Nova York! Santo San Francisco Santo Poeria & Seattle Santo Paris Santo Tânger Santo Moscou Santo Istambul!
Santo o tempo na eternidade santa a eternidade no tempo santos os despertadores no espaço santa a quarta dimensão santa a quinta internacional santo o anjo em Moloch!
Santo o mar santo o deserto santa a ferrovia santa a locomotiva santas as visões santas as alucinações santos os milagres santo o globo ocular santo o abismo!
Santo perdão! Misericórdia! Caridade! Fé! Santo! Nossos! Corpos! Sofrendo! Magnanimidade!
Santa a sobrenatural extra brilhante inteligente bondade Da alma!
Tradução de Claudio Willer. Coleção L&PM Pocket, vol. 188/pg. 46-47. 2001