segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Entrevista Na Mira

Suplemento Na Mira - Jornal Estado do Maranhão - 12 de março de 2010.


Riba Chinaski

Graduando do Curso História Licenciatura na Universidade Federal do Maranhão.

Colunista do Jornal Extra/Slz desde 08 de fevereiro de 2009.

Blogueiro desde 25 de outubro de 2008, com vários blogs, como Fora do Ar, Nativus Slz sendo que este contou com considerável repercussão em São Luís do Maranhão e atualmente possui um blog de contos e crônicas intitulado Botequim da Diva




Na Mira: Há quanto tempo escreve poesias?


Riba Chinaski: Quando estava no ensino médio, no 1º ano, comecei a escutar uma galera que fazia Rock and Roll na década de 80, como Legião Urbana, Cazuza entre outros, e percebi que aquelas letras não eram simplesmente para serem cantadas ou para dançar ao som delas, mas também ou principalmente para refleti-las. Assim comecei a timidamente escrever alguns rabiscos poéticos, eu já escrevia há algum tempo, mas nada de poesia, eram enredos de histórias. E com o passar do tempo e com o consumo diário de autores poetas, comecei a me apaixonar por esse estilo literário. Meu primeiro meio de divulgação dos meus primogênitos poemas foi aqui no “Galera” que hoje se tornou “Na Mira”.

Na Mira: O que mais gosta na poesia?


Riba Chinaski: A possibilidade da expressão dos sentimentos, dos desejos e das emoções mais sinceras, ou nem tanto assim, que ela nos possibilita.

Na Mira: Qual poesia gosta mais? Por quê?


Riba Chinaski: Essa é uma pergunta muito complexa, escolher entre tantas as poesias que conseguem despertar em mim algum sentimento. Espero que você não se sinta ofendida, por minha violação da pergunta, escolherei duas de dois escritores de épocas distantes, mas muito similares no que diz respeito a sua “mística” literária. O Primeiro poema é de um escritor português muito citado, mas pouco conhecido em sua expressão literária, Fernando Pessoa. O Poema “Tabacaria”, do heterônimo Álvaro de Campos, sempre me tocou de uma forma inexplicável, pelo menos até uns 14 anos era um pouco nebulosa minha relação com ele. Hoje consigo perceber o quanto de imensidão e vontade existe ali, apesar de seus primeiros versos falarem de uma vida ou uma existência que pode não levar a nenhum lugar, uma de suas estrofes que vem logo depois e uma que vêm ao final, mesmo que pareçam inocentes guardam um fio de esperança ou quem sabe uma saída tormentosa, a busca pelos sonhos: “... À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...” e “... Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.”

O Outro escritor e sua cria é o poeta Beat Allen Ginsberg, o verdadeiro místico da Geração Paz e Amor e de seu ideal “Flower Power". O Poema que escolhi, na verdade é uma introdução poética ao seu poema mais famoso e de certo um dos mais polêmicos, “O Uivo”. “Nota de Rodapé para o Uivo” retrata uma busca incessante pela sacralidade que todos os seres e objetos tem, o homem sendo considerado “imagem e semelhança de um Criador, tem por seu direito a sacralidade do seu corpo e também a de tudo que é feito por ele. Também guarda uma amostra da incessante busca espiritual que não só a Geração Beat se preocupa tão fortemente, como a busca por algo maior que todos os seres humanos tem, não só em questões religiosas, mas também de auto-satisfação.

PS:
Confira “Nota de Rodapé para o Uivo” no final da entrevista.

Na Mira: Qual é o poeta preferido? Por quê?


Riba Chinaski: Poeta preferido? É muito interessante essa pergunta por sua dificuldade, e pelo constante receio de escolher um entre tantos os sagrados senhores da poética e deixar os outros com ciúme ou desamparados, mas creio na escolha de algum deles por meus colegas de entrevista. Para facilitar minha vida, que me perdoe Fernando Pessoa, mas o poeta que mais consegue refletir os meus desejos mais profundos é o grande heterônimo “Álvaro de Campos”. Esse Heterônimo é o mais inquieto, o que mais guarda angústia da sua existência e o que mais consegue condensar os sentimentos mais profundos dos seres humanos, e, por conseguinte o que mais me fascina. Não tenho palavras para expressar o quanto da genialidade de Fernando Pessoa, só um místico ou “deus” para conseguir se dividir em mil e dar a cada um deles uma característica peculiar e nunca os confundir entre si.

Na Mira: Qual a sua temática preferida ao escrever poesias?

Riba Chinaski: As minhas temáticas variam muito, do simples e trágico amor romântico ao confronto do jovem com sua própria existência. Certa vez um amigo me falou que meus escritos eram destinados aqueles que estavam começando na vida, não importavam se jovens ou adultos que despertavam, quase como um "Satori", o despertar budista tão bem retratado por Jack Kerouac. Eu guardo um fascínio especial pelos temas que envolvam algo como um despertar, uma consciência adormecida algo que encontro muito na Geração Beat e em poetas como Fernando Pessoa.

Na Mira: Por que você acha a poesia algo importante?


Riba Chinaski: A Poesia além de guardar uma expressão dos sentimentos mais profundos, um olhar de alguém sobre a vida ou do cotidiano. Expressa também que apesar de toda mácula toda pobreza que nos é destinada ainda existem alguns que como viajantes tentam fazer com que as pessoas se lembrem que ainda são humanos e como tais ainda devem lembrar que existe o amor ou quem sabe mesmo a tristeza possa ser encarada como mostra de sua fragilidade. Na realidade acho que todos são artistas ou poetas, como um pai de família consegue ser um Fingidor digno de Pessoa, para tentar equilibrar as despesas de sua casa com o pouco que ganha. Essa é a verdadeira poesia aquela que a maioria não percebe, mas que guarda um talento bastante admirável.

Na Mira: Para você, jovem ainda gosta de poesia? Por quê?

Acho que o jovem por excelência é um grande apaixonado pela poesia, apesar dos sinais que dizem o contrário, como a grande procura por músicas com letras de qualidades um tanto duvidosas. Ainda vejo muitos jovens expressando essa característica poética, um grande exemplo é a quantidades de blogs e até de publicações alternativas, estas últimas em número menor aqui na ilha. Hoje a grande alternativa para expressão da poesia, é a chegada de uma onda mais melosa que vem das bandas “emos” que expressam seus sentimentos através de melodias choronas e letras cheias de amor. Mas é notável a procura por clássicos da literatura mundial, uma prova é quando vou às livrarias a procura de algum livro de poemas, na maioria das vezes esse já se esgotou.

Na Mira: Você acha importante ter um dia da poesia? Por quê?


Riba Chinaski: Toda data comemorativa é bastante simbólica e representa um dia em que um fato ou uma grande característica é exaltada, particularmente considero que para os apaixonados pela arte poética todos os dias são dias de celebrá-la. No entanto, acho bastante louvável a escolha do dia 14 de março, dia do nascimento de Castro Alves um de nossos maiores poetas abolicionistas, como dia símbolo desta arte, além disso, tendo um dia “especial” para a poesia é bom ver que alcance essa arte tem nos jovens ou mesmos nos adultos, pois é comum ver num dia de comemoração diversas homenagens ao que está sendo celebrado.






Nota de rodapé para UIVO - Allen Ginsberg

Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!Santo! Santo! Santo! Santo!
O mundo é santo! A alma é santa! A pele é santa! O nariz é santo! A língua e o caralho e a mão e o Cu são santos!
Tudo é santo! Todos são santos! Todo lugar é santo! todo dia é eternidade! Todo mundo é um anjo!
O vagabundo é tão santo quanto o serafim! O louco é tão santo quanto você minha alma é santa!
A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz é santa os ouvintes são santos o êxtase é santo!
Santo Peter santo Allen santo Solomon santo Lucien santo Kerouac santo Hunke santo Burroughs santo Cassady santos os mendigos desconhecidos sofredores e fodidos santos os horren dos anjos humanos!
Santa minha mãe no asilo de loucos! Santos os caralhos dos vovôs de Kansas!
Santo o saxofone que geme! Santo o apocalipse bop! Santos a banda de jazz marijuana hipsters paz & droga & sonhos!
Santa a solidão dos arranha-céus e calçamentos! Santas as cafeterias cheia de milhões! Santo o misterioso rio de lágrimas sob as ruas!
Santo o solitário Jagarnata! Santo o enorme cordeiro da classe média! Santos os pastores loucos da rebelião! Quem saca que Los Angeles é Los Angeles!
Santo Nova York! Santo San Francisco Santo Poeria & Seattle Santo Paris Santo Tânger Santo Moscou Santo Istambul!
Santo o tempo na eternidade santa a eternidade no tempo santos os despertadores no espaço santa a quarta dimensão santa a quinta internacional santo o anjo em Moloch!
Santo o mar santo o deserto santa a ferrovia santa a locomotiva santas as visões santas as alucinações santos os milagres santo o globo ocular santo o abismo!
Santo perdão! Misericórdia! Caridade! Fé! Santo! Nossos! Corpos! Sofrendo! Magnanimidade!
Santa a sobrenatural extra brilhante inteligente bondade Da alma!

Tradução de Claudio Willer. Coleção L&PM Pocket, vol. 188/pg. 46-47. 2001

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Diário ao Avesso de um Universitário


01:08 – As mãos tropeçam pelo teclado do computador, enquanto os olhos estão nebulosos tentando se manter abertos apesar do sono, dos cigarros e da bebida gelada que foram consumidos no Centro Histórico. Ao fundo Kurt canta e congela o tempo “Come dowsed in mud, Soaked in bleach, As I want you to be…” um gole de coca sai rasgando a garganta espassada pela fumaça do tabaco que fere os pulmões jovens, mas virtuosos.

22:55 – Na mesa do bar perto do cais do porto, as ondas se batem furiosas e tentam acordar ou chamar atenção do artista que usa malabares com labaredas na ponta e que nos pede qualquer contribuição para continuar sua arte, penso em não dar nenhum tostão, mas a cortesia entre vagabundos é a mais antiga lei da rua, na mesa estão meu amigo e sua garota e lá na frente está alguém que desperta minha atenção, regata preta, tatuagem no braço direito, brinco na orelha esquerda, passo um bom tempo tentando conseguir algo, mas o olhar desvia. Começa a chuva todos correm para dentro do bar, vou atrás do “alvo” com um “Hollywood” queimando os dedos, lá sinto que ele tenha percebido meu descarado cantar, meu amigo some e fico lá com sua garota, ela o procura sob chuviscos e ele sem conversa sai andando, vou atrás como bom e fiel escudeiro, não entendendo que aquele seria meu 1º calote...

20:30 – Estou na Área de Vivência do Campus, entro descaradamente com meu companheiro cigarro, apesar do calor, fico ali curtindo o bom e velho “Pedra Rolante”, meu olhar consegue dá uma volta de 360º na sua busca incessante por uma companhia ou quem sabe uma trepada, afinal o que é melhor para se arranjar em um festa onde todos estão com suas espingardas prontas para atirar em qualquer buraco que se apresente, do que se não uma boa transa, pelo menos uma dor no fim do mundo?

18:45 – Passaram-se 15 minutos do fim da última aula, estou na frente da sala com uma turma, quer dizer o melhor que encontro naquela sala, que é um saco! Abro a bolsa lá tem 2 tipos de papel higiênico, resgatados dos banheiros imundos daquele lugar, o 1º é uma marca vagabunda daquela que na hora de se limpar ficam farelos bem no seu olho inferior, o Segundo muito mais legal, quem diria que a reitoria se preocupa com a qualidade da limpeza de nossos “cus” e que lindo ele é “folha dupla”!

17:0018:10 – Sentados num banco de concreto, estou eu e uma amiga, conversando, quer dizer ela tentando me dizer “Aí eu estou tão chata”, algo que foi repetido 6 vezes até que eu dissesse: - Ah sei disso e olha que é só a segunda semana de aula, imagina o que vem pela frente; olhares distantes e cartazes do lado, “Vamos pra sala?”, “Vamos”...; Acontece o amor, ele acorda para a vida, Tem um ataque cardíaco, pois sente a dor do primeiro beijo. Acorda à noite, sempre com ânsia de transar, masturba-se fazendo eclodir a lava, melada e fedorenta, diz amém. Nasce um poema...

16:30 – Final do 1º Round, parece mais o livrar-se de um peso, estavam todos desinteressados, com algumas exceções que fingiam interesse, no mais os outros ou estavam tirando um cochilo ou lendo revistas em quadrinhos. Enquanto o maestro tentava controlar a orquestra com todos os recursos possíveis, piadas de juventude até escapadelas em territórios exóticos, no entanto a platéia se debatia em convulsões paradoxais despertadas pelo tédio da sexta e pela energia contida para a festa de calouros. Eu só estava gélido, homem pensante e perdido em pleno século XXI ou será XIX?

14:10 Camisa preta de botão, manga longa dobrada até o cotovelo, desligo o som e deixo o Fab Four esperando até o próximo encontro. Lá está um de meus parceiros com uma tábua que parece ser daquelas de confeiteiro que logo me revela ser de uma amiga artista que ficou de ir buscar-la por volta das 3 horas, subimos a escada lá está outro Brow, os convido para tomar uma gasosa, após os arrotos, partimos para a sala, onde começa o baile.

11:00 Tento ler um texto para uma das aulas do dia, no entanto a paciência se esgota rapidamente, cedendo lugar a uma bela e prazerosa aliviada, termino e todo sujo parto rumo ao quintal, onde tomo um belo banho, como os que descobri ultimamente. Tudo parece ser tão chato nessa droga de vida, não tenho muito saco pra pensar em despertar do coração, penso mais em viver um bom suco de uva com biscoito água e sal.

10:00 “Here comes the sun, Here comes the sun, And I say, It's all right…” Acordo…

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Da Simplicidade das coisas




Afinal por que as pessoas vivem complicando as coisas?

Porque não podem encarar a vida com maior naturalidade?

Em uma conversa com um colega universitário, discorríamos sobre como as pessoas atribuem significados complexos as obras de arte.

- Cara, será que toda essa discussão sobre significação dessas obras, o que falam delas como se fossem Shelorck Holmes tupiniquins, seria realmente o que os artistas queriam passar?

Respondi-lhe que assim como a vida, as obras só nos significam aquilo que nossos olhos querem ver.

Quantos de nós ao encontrar um menor sinal de fracasso, não nos desesperamos como se aquilo fosse o final do mundo? Quando tomamos tal atitude mostramos o quanto não sabemos da vida, essas pequenas pedras no caminho são provações e encarando-as como tal, só temos a crescer em nossa jornada.

Ao invés de perdemos tempo dando complexidade a vida, deveríamos vivê-la com simplicidade e lembrarmos que um dos maiores homens da História, Jesus Cristo, viveu em uma época atrasada, onde ele sofreu pelo simples pecado de amar as pessoas e a vida e mesmo assim soube tirar de seu sofrimento sua fortaleza.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Várias Variáveis



O que se esconde nas esquinas de uma cidade? Poderia ter começado esse texto de várias formas, mas o estômago registrou essa frase. A vida marginal que eclode dos becos escuros, a lama que escorre pelos buracos, uma bituca de cigarro no chão tudo isso é arte e da mais pura forma de arte, não aquele tipo que é para ser estudado e registrado em enciclopédias, mas sim sentidos. Olhem que tal sentir uma boa fumaça de cigarro que deve ser até melhor que o ar puro, tão careta em sua escassez, é a alma da rua se manifestando em uma tragada surreal, a mentira se tornando real ou quem sabe desigual na medida que você não sabe encará-la como ideal. Você já sentiu a força que brota do chão de pedras ou quem sabe aquele cheiro de pinche molhado no final de uma noite? Sentir na pele o frio da chuva que tal?, se não sente, não tem problema vai lá fora agora se tiver chovendo se jogue no asfalto deixe ela te molhar, mas lembre-se depois dela, um copo de qualquer bebida quente faz por você o que nenhum remédio ou credo faz lembrar.

O corpo antes frio agora sente o calor da bebida acompanhar todo o percurso que sangue faz em sua rotina, parece que você pode acompanhá-lo em sua viagem, que tal sair para sentir isso na rua ? Olhe lá no fundo da rua quem aparece lá, que figura torta sem rosto é só uma sombra de alguém. Têm um vagabundo com mão no bolso me olhando, chego de bobeira e começo a tragar seu cigarro, ele de boa dá uma risada.

A arte das ruas que loucura mediana horizontal, Nathasha passou por aqui, muito doida derrubou o pó em cima de mim e nem me ofereçeu, levada essa muleka.

Agora com o calor da bebida e a fumaça da tragada, você já esta pronto para sentir a viagem transviada, tudo é trangressão meu irmão, o sexo, a droga e até a religião. E que neura aqui só tem punk cristão.


Um Beijo Roubado


De tudo o que já fizera na vida, Dom Paulo só se arrependera de uma única coisa, o medo de amar! Não que ele fosse um cara feio ou pobre, sempre foi um cara esforçado, desde cedo aprendera com o seu pai Dom José, que tudo o que a gente quer, com esforço e dedicação se consegue. Então tudo o que ele conseguira na vida fora fruto do suor de sua testa, que já estava marcada por tanta labuta. Mas, tão cedo com esse ensinamento, veio também uma descoberta cruel o pobre Dom não sabia como se aproximar das meninas, que viviam logo ali após a esquina da Rua das Amendoeiras. Toda vez que ele as via brincando com seus bambolês, seu coração girava tão quanto aqueles brinquedos. Ele ficava horas e horas naquela contemplação às ninfas, que ás vezes com uma corda, em 3, duas meninas segurando cada ponta e uma que pulava como uma bailarina em seu monologo desenfreado, o deixavam boquiaberto. Ele queria poder chegar junto a elas, mas algo que era maior que sua vontade o fazia recuar, e pensar que hoje de manhã elas eram suas companheiras de colégio, no entanto, agora as olhava de maneira diferente, como um raposa vigiando suas presas. No cair da tarde ele queria está com elas em bailes que nunca terminariam, festas que só ele tocasse e dançasse a música ideal com as moças de sua mente. No entanto, tudo isso era miragem, pois ao menor instante próximo a dona de seus desejos, nem uma frase, palavra ou suspiro saía de sua boca, só após a foto. Ele crescia e a cada tamanho de camisa a mais, sua inaptidão aumentava, até que ele encontrou uma garota que lhe deu seu primeiro beijo, quer dizer roubou dele, pois Dom Paulo era tão lerdo que nunca conseguia roubar nada e tal menina teve que tirar dele o que ele nunca havia dado a ninguém. Ele sentiu um sol em seu peito, naquele quase - sempre crepúsculo finalmente houvera a luz. Sem se esquecer da imensa e rubra mancha em suas bochechas tão coradas, tanto pelo sol que ele quase não tomava, quanto pelo calor do crime. Cada festa que passou a frequentar com seus colegas era mais um desafio a ser encarado, nem sempre de frente como os heróis que tanto gostava, no desfecho delas via os vultos dos colegas passarem como borrões por seus olhos, nunca sozinhos. Dom Paulo sempre gostava de assistir filmes com os quais um cara de óculos, cabelo penteado pro lado e gravata borboleta era zuado pelos valentões da escola, sendo que no final dava o troco neles e ainda por cima ficava com a garota mais bonita de lá, o que ele mais gostava nessas histórias era que os tais “nerds”, assim eram chamados os protagonistas de óculos, tomavam uma coragem absurda e cantavam as princesas, que pena que ele não usava óculos! Acordava todas as tardes com uma única certeza ,aquele seria mais um dia de busca, de coragem talvez, como todos os outros dias que já se esgotavam naquele calendário, mas que escorriam pelas novas crianças nascidas em sua testa. Ele lembrara certa vez em que chegara ainda mais perto de perder a virgindade de sua coragem, quando no meio de um porre à La Nero, quase tinha falado tudo o que sentia a uma moça da faculdade que ele andava de olho há muito tempo, no entanto como Dom Paulo mesmo ébrio ainda conseguia manter sua razão, ele desperdiçou a chance de provar que não precisava provar nada pra ninguém e como sempre se arrependera no final. Agora tudo era diferente, pelo menos nos anos gravados em seus cabelos, com a noite que havia chegado viera também uma tempestade que hora ou outra o deixava mal. Enquanto de seus olhos escorriam gotas do mar ele ia apreciando cada gole daquele vinho que o sufocava e o tornava cada vez mais morto. Nunca veio outra manhã e tudo o que ele queria era ver outro raio de sol, adentrando sem pedir licença ou quem sabe um até logo. Mas, sempre esperava acima de tudo outro “mas”, que de tanto se querer não deixou prazer ou quem sabe um outro “ou”.



A Ponte





“Quem me dera/Ao menos uma vez/Como a mais bela tribo/ Dos mais belos índios/ Não ser atacado /Por ser inocente./ Eu quis o perigo/ E até sangrei sozinho/ Entenda!/ Assim pude trazer/ Você de volta pra mim/ Quando descobri/ Que é sempre só você/ Que me entende/ Do início ao fim.” (Índios – Renato Russo)


Um índio entra num shopping em suas vestes naturais, despertando algo como um espanto generalizado nos civilizados. Construção sempre há salvação na destruição, é acordar na hora do apocalipse. Ele caminha perante os olhares espantados, não demonstra nenhuma reação, a cada passo maior se torna o alvoroço. Estive dormindo durante 40 dias e soníferas noites, ainda estou, mas acordado. Dois seguranças aparecem seguram o índio pelo braço e o jogam para fora. Sujeira nos olhos, um bocejo dilacerante, já estou num meio termo. Silêncio é a resposta do Nativo, nenhuma palavra ou grunhido saem de sua boca. Limpo os olhos, mas ainda não vejo nada, saio de casa, vou dormindo. Ele se balança pelos postes em cima de uma ponte, mais uma vez os gritos. Tontura em crescimento quase caio na rua, dormindo por enquanto. Pula na frente de um carro e conversa com ele, parece estar diante de um animal. Quase levanto de minha quase queda, limpo a cabeça suja de lama de um buraco em que quase caio. Os gritos aumentam, o motorista desce do carro e xinga o jovem índio, que o olha sem entendimento. Visão tonta, um monte de carros parados, fila do almoço ou engarrafamento? Ele ainda continua calado, apesar dos urros de amor do senhor da cidade, ele o olha e como se houvesse visto um espírito sujo da floresta, sai em sua longa caminhada, as pessoas assustadas continuam a gritar. Ai! Minha cabeça tá rachando, estou escutando gritos de gralhas que vêem dos carros, o que é isso? o que é aquele raio que vejo vindo em minha direção? O índio corre e de repente para em frente a um garoto e o olha, parece que encontrou o que tanto procurava.

– Ei quem é você? - pergunto o cara não me responde e ainda por cima me pega pelo braço.

O Índio se espanta com sua visão e puxa o garoto pelo braço o levando para beira da ponte.

– Ei cara me solta, você tá me levando para onde? - Os gritos aumentam...

Estou agora rumando ao fim, o vento forte rompe meu ouvido, a velocidade é cruel. O índio salta da ponte levando o garoto consigo para o salto da vida, os gritos estão mais fortes, embora não os ouça claramente. Encontro o começo de minha eternidade, um beijo nos lábios salgados do mar, sinto minha coluna espatifasse no vidro de águas. O Índio continua mesmo com a queda sem falar, o garoto também para de gritar, o índio antes de entrar no espelho fala: - Acorde. Ao entrar em contato com água, que susto estou no meu quarto, na minha cama, todo mijado.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Véu da Princesa Desacordada. I




Ela coça a cabeça, já sente um volume em seu ventre, embora ninguém a fale, ela percebe que há murmúrios ao seu redor. Seu vestido está um pouco surrado, mesmo assim ela o trata como um véu de princesa, com todos os perfumes e cuidados que as camareiras reais dariam a essa divina veste. O quarto parece tão pequeno, quando era criança aquele parecia um reino, onde inventava mil histórias, castelos, princesas frágeis em torres altas vigiadas por soldados valentes, na espera de um príncipe encantado que a tiraria de sua letargia, tudo isso cabia ali, agora tudo aquilo havia desaparecido, o medo tomou o lugar da imaginação. Dirigi-se até a cômoda encostada em um dos cantos do quarto, pega sua escova, ela ainda tem alguns fios de seu cabelo negro, ainda cheiroso, ela aperta a escova contra seu peito, fecha os olhos, que gostosa lembrança era aquela, tudo cabia, tudo era só o seu mundo, não havia homens, só príncipes. Uma lágrima escorre sinuosa de seus olhos e desenha uma curva de rio em seu rosto, antes ela procuraria o colo de sua mãe, agora só havia a si para curar a sua solidão. O espelho na sua frente, um pouco desgastado guarda tantas lembranças, suas amigas reunidas em frente dele, fazendo caretas, poses de modelos, maquiagens glamorosas e outras fantasias femininas. Naquele olhar triste está tanta mágoa, tanto medo, mesmo assim um sorriso ameaça aquele clima de desolação, um riso frágil, mas mesmo assim um riso, de fazer inveja a qualquer modelete de creme dental. Os murmúrios atrás da porta aumentam, seu peito começa a ficar tão apertado quanto o quarto cheio de lembranças, a cada voz lá fora parece que um murro é dado em sua cabeça, a frágil mulher quer ver a luz, dirige-se até a janela, abre e contempla o mundo lá fora, tão perfeito imenso, como uma aquarela, será que existe um pintor? Será mesmo? E se ele existe, por que não muda aquele quadro abstrato com toques barrocos que se tornou sua vida, em um lindo quadro romântico, com um príncipe que lhe canta as mais belas canções, enquanto ela saboreia doces morangos. Mas, sua mente não está em ponto de devagar sobre questões existenciais, o que a espera está muito mais para Realismo Radical, com toques de modernismo confuso, do que simples questões amorosas, mesmo assim ela sente. Lá fora algumas meninas passam fardadas, com mochilas, fichários nas mãos, tão bem arrumadas, com seus perfumes que desenham flores quando andam, um aperto maior vem em seu coração, uma daquelas meninas segura seu fichário como se segurasse uma criança, que saudade ela sentia agora, mas esse sentimento trazia consigo também um pouco de mágoa, ela se imagina naquele local, onde outrora passeava deslumbrante com seu uniforme cheiroso e bem passado, que fazia a inveja de outras meninas, até mulheres. Tão exuberante que despertava a libido de meninos traquinas que viviam a jogar bola naquela rua, em especial de um, que se tornaria seu primeiro fica. Foram tantos os pedidos de enlace, tantas cartas e alcoviteiras a tentar algo para aquele jovem esportista de rua, que um dia ela acabou cedendo às aventuras de um primeiro amor, todos perceberam o que havia ali, menos a família dela, já que quase sempre são os últimos a saber, mas, como uma rua, uma escola, amigas e suas mães, sempre são amigas da sua, a pobre menina acabou ficando proibida de encontrar o jovem rapaz, sob pena de ser enviada para a casa da Tia Amélia, uma triste senhora sem filhos. Passaram-se alguns anos e mesmo com alguns encontros ás escondidas aquele sentimento inicial acabou se esvaindo, mas tão especial que naquela contemplação de luz, essa foi a principal lembrança. – Ah, como queria viver pra sempre aqueles momentos iniciais, de amor e pureza de um amor de juventude – queixa-se ao infinito a jovem donzela deflorada. Os murmúrios aumentam ficando quase insuportáveis, ela vacila na janela, como se fosse desmaiar, no entanto se segura, ainda tem força, afinal já era mulher, completara 18 anos recentemente e com a responsabilidade que teria de enfrentar pela frente, aquele murmúrio não passava de um simples enjôo, mas que agora incomodava. Um vento fresco invade o quarto, como se fosse um sinal ancestral que esperava, para anunciar o momento certo ou mais adequado para sua confissão, aquele vento toma conta de seu corpo, ocupando por enquanto o lugar do medo e de suas lembranças, arruma o cabelo, enxuga as lágrimas, abre a porta do quarto e sai gloriosa como uma princesa a atravessar o salão de bailes real... continua...